

Extratos
Seguem-se 2 PDFs:
No primeiro, apresentam-se as páginas iniciais do livro que incluem a Apresentação, a Dedicatória, três mapas simplificados e o Capítulo 1.
No segundo, surge o início de um dos capítulos encabeçados por citações do Apocalipse de João.


Plano da Redução de São Miguel Arcanjo
Igreja de São Miguel Arcanjo - 1756
Estas imagens estão alojadas em: Sítio Arqueológico de São Miguel Arcanjo
https://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%ADtio_Arqueol%C3%B3gico_de_S%C3%A3o_Miguel_Arcanjo


La Fontanilla e a Igreja de San Jorge Mártir,
em Palos de la Frontera , Andaluzia

Monasterio de La Rábida (claustro)
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Azulejos existentes na Igreja de San Jorge Mártir, com os nomes dos habitantes de Palos de la Frontera que embarcaram nos navios comandados por Cristóvão Colombo

Monasterio de Santa Clara, Moguer

Nau Santa Clara (réplica), Moguer
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Caravela Pinta (réplica), Moguer
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Caravela Niña (réplica), Moguer
A fotografia encontra-se alojada em: https://es.wikipedia.org/wiki/Lugares_Colombinos
Em Baiona, na Galiza, também existem réplicas destes navios.
As restantes fotos são do autor

Portugal, em particular a sua “Expansão” pelo mundo, é uma das peças fundamentais do enquadramento histórico que se apresenta. Espanha e Roma não são esquecidas.
(…)
A muralha da cidade tem setenta e sete torres e trinta e oito portas, vinte e duas das quais viradas ao rio.
Mar da Palha. Paço da Ribeira. Ribeira das Naus. Naus da Carreira. Carreira das Índias, desejadas e alcançadas. Armadas. Cais das Naus. Naus construídas, naus saídas. Saídas, chegadas. Naus descarregadas. Lisboa engrandecida e enriquecida, porta da Europa, encruzilhada do mundo. O mal e o dano, o bem e o lucro.
As naus de velas amainadas baloiçam para um e outro lado, mal e bem, bem e mal. As naus oscilam, suavemente, como berços de crianças, embaladas ao ritmo tranquilo da pequena ondulação caseira.
O Bem e o Mal.
Venturoso é o rei, felicidade é fortuna, tesouro e luxo. D. Manuel I coleciona animais exóticos. Os seus elefantes já passearam em Lisboa onde esteve preparado um confronto entre um jovem paquiderme e um rinoceronte que este venceu porque o animal da tromba fugiu e o dos cornos ficou. A riqueza de uns é miséria e morte de outros.
O Mal e o Bem, o Bem e o Mal. As naus gingam, como a Moral.
Todos os anos entram no Reino trinta mil a quarenta mil quintais de especiarias e drogaria. As saídas de Lisboa são em janeiro, fevereiro ou março. Fevereiro é o melhor, mas também acontece os barcos só largarem em abril.
(…)
Em 1550, Lisboa tem cinco colinas e cinco vales, mais de seis mil passos de perímetro, onde vivem cem mil habitantes, dez por cento dos quais são escravos.
(…)
A frente ribeirinha é encruzilhada do mundo. Lisboa abre-se ao Tejo onde se podem ver barcaças em movimento por entre naus, galeões e caravelas ancoradas. Vista de Almada, a cidade assemelha-se a uma bexiga de peixe. Veem-se campos, quintas, pomares, olivais, amontoados de casas onde sobressaem igrejas e palácios, e o Castelo num alto.
(…)
Lisboa é, toda ela, um vasto mercado. Na Via Nova d´El-Rei encontram-se joalheiros, lapidários, ourives de prata e de ouro, gravadores, douradores e cambistas, mas mais procurada é a Rua Nova dos Mercadores. Fica perto do Tejo e do Paço da Ribeira. Tem calçada larga e empedrada e é a principal artéria de comércio com as muitas lojas e sobrelojas que se abrem para a arcada de colunas e que (…)
( Extratos: páginas 187; 322; 323; 324)


Vista da Rua Nova dos Mercadores, 1570 – 1619. Autor flamengo desconhecido. Óleo sobre tela. (Londres, Kelmscott Manor Collection, The Society of Antiquaries of London. Quadros apresentados na exposição “A Cidade Global ─ Lisboa no Renascimento”, realizada no Museu de Arte Antiga, em Lisboa, de 24.02 a 09.04.2017).
http://www.museudearteantiga.pt/exposicoes/a-cidade-global
http://museudearteantiga.pt/content/files/pressrelease_global_low.pdf?nonce=3f083abe54a9bb81df875d2427597fae&nonce=0ca8ba6ee2d2074f21ccfac8d363a900&nonce=83dfeebd41f33cafcc1452175b0cbd89&nonce=cf217ab61b7e3927f39feb255afd38cd&nonce=fc1cfa735fc811e1049323df28430700
2.º Volume
(…)
Cristóvão Colombo tinha sede de riquezas e de fama. Muitas vezes escreveu a palavra “ouro”. Milhões de ameríndios e de africanos morreram tragados pelo mundo que os invadiu. Muitos anos passaram desde então. Mas terão desaparecido os conquistadores sanguinários e os valores que os moviam? Quem são os autores das incontáveis atrocidades praticadas durante os últimos séculos nas Américas e em África, e na Austrália, na Ásia e na até na Europa, incluindo os múltiplos genocídios?
O poderia branco “civilizou”, à sua maneira, ameríndios, asiáticos, oceânicos e africanos, mesmo depois de ter prescindido da escravatura — no papel. Mansos cidadãos europeus explorados nos seus países tornaram-se exploradores violentos e cruéis fora da metrópole.
No século XX, os mercenários do rei belga Leopoldo II decepavam mãos e pés a crianças negras que não cumpriam as cotas de trabalho impostas. No Extremo Oriente, cabeças cortadas de indochineses serviam de cenário para fotografias enviadas com orgulho para a pátria dos colonizadores vindos da terra da “Fraternité”. À sombra da Union Jack, a administração britânica torturava os quenianos obrigados a trabalhar para os donos da terra que lhes fora roubada. Entre outras práticas, introduziam garrafas na vagina das mulheres, esmigalhavam testículos e empurravam areia pelos ânus dos seviciados, com a ajuda de bastões.
O continente africano foi o mais sacrificado. Portugal, Espanha, Itália, Alemanha, Bélgica, França e Grã-Bretanha massacraram-no, pilharam-no e retalharam-no com as espadas e com as canetas que desenharam mapas e assinaram tratados. Essa época do colonialismo recente puro e duro já passou. É verdade. As guerras de libertação deram origem a novos países independentes, mas a saída dos exércitos europeus trazia no seu ventre outras formas de exploração. O ideal que originou a sua presença mantém-se bem atuante e assume mutações variadas e muitas máscaras. Africanos ativos na libertação do jugo europeu tornaram-se ditadores sanguinários e colonizadores internos dentro dos seus próprios países, por vezes aliados aos antigos poderes estrangeiros. O mesmo aconteceu em muitos lados e repete-se com cambiantes enganadores. Mobuto Sese Seko do Zaire, ex-Congo Belga, serve apenas como exemplo caraterístico. Pela calada, o Neocolonialismo serve, convenientemente, velhos senhores e novos beneficiários, com destaque para o imperialismo dos Estados Unidos da América que se estende até onde pode.
Os filhos dos conquistadores estão bem vivos, não são fantasmas do passado.
( Extrato: página 666)